O dia de hoje tem uma relevância ENORME. E ainda que seja vivido socialmente a "meio gás"; cabe a nós sermos advogados desta causa! Porta bandeira de uma micro nação que na verdade é tão grande à escala mundial , quanto a imensidão e amplitude do que caracteriza!
Informar ; dar a conhecer SEM MEDO da exclusão social; sem medo se ser ostracizado pelos pares. SER A VOZ dos que falam em silêncio!
Quando eu era criança, mais ou menos com a idade em que começámos o processo de diagnóstico do nosso pequeno Válter, o mundo tratava os autistas como "seres" não humanos...
Choca e faz "doer", não faz!?
O paradigma da evolução tecnologica e digital trouxe ao mundo uma evolução extraordinária em apenas 3 décadas.
Felizmente fizeram-se avanços notáveis!
Hoje podemos compreender o TANTO que em tempos se traduzia em ações como a que vos mostro na imagem, que só nos podem causar repúdio!
Porém, esta diversidade neurológica é secular; existem relatos de variados casos de "crianças selvagens" ao longo da história , nem todas com o perfil de autismo , mas alguns casos, como o Vitor de Aveyron , do século XIX, que nos mostram o desconhecimento desta condição ao longo , na verdade, da toda a história da humanidade.
Já falámos no artigo sobre a neurodiversidade que o gene do autismo está associado ao gene da evolução da espécie; recordam-se?!
Voltando à história do " Menino Selvagem de Aveyron" ; este foi um menino resgatado no início do século XIX, em França, no bosque de Aveyron num estado animalisco e anti-social. Caminha como um animal quadrúpede e não falava. Acredita-se ter sido deixado à sua sorte pelos pais, talvez com 4 ou 5 anos, por nao perceberem o que se passava com este... Ou seja passou cerca de 6 anos totalmente SÓ...totalmente entregue à sua sorte............ foi deixado para morrer... porém; SOBREVIVEU.
Alguns médicos da época, que o examinaram após ter sido levado para o Hospital, diagnosticaram-no como portador de uma doença mental grave a que chamavam de "Idiotia" ou seja, "idiotice/imbecilismo" se assim se puder designar ( isto é REAL , estavam em 1800); e como tal devia ser internado num instituto psiquiatrico. Um tal de Drº Itard, defensor da corrente socio-interacionista de Vigotsky, achava que poderia "educa-lo" , e que estes estavam errados. Ele teria sido privado dos processos de socialização humanos e como tal , não os desenvolvera....
Vigotsky trabalha, então, com a premissa de desenvover as “funções mentais superiores”.
Para este, são estes processos mentais que nos diferem das outras espécies. No caso, em análise, e segundo ele, a FALA é uma função superior que nós só aprendemos porque mantivemos , num estágio inicial do desenvolvimento, interações com outros seres “falantes” que nos ensinaram a reproduzir essa função.
Itard , apresenta esta postura na sua intervenção.
Contextualizamos então esta informação dentro da história de Vitor, o “menino selvagem”.
Talvez tenha sido abandonado com três ou 4 anos de idade; portanto aparentemente o seu desenvolveu-se por instinto de sobrevivência, adaptando-se ao meio.
E talvez por isso, e de acordo com a Teoria que sustenta que este nao tinha usufruido do convívio social desde o nascimento, não tenha desenvolvido a oralidade , ou seja , a fala; e ao invés disso tenha adquirido através do meio , barulhos através da imitação dos animais, vento nas árvores, insetos, chuva, etc.
Mas o Vitor demonstra capacidade de adaptação , resiliência e tenacidade.
Uma criança não sobreviveria tanto tempo largada à sua sorte.a
O que isto significa??
Já lá chegaremos!!
A sua integração na civilização dá-se pela “mão” de Itard,
Observa-se uma a reorganização estrutural e psíquica em Vitor.
Aparentemente dá-se a reorganização social cultural do seu perfil, e observando-se equilíbrio físico, cognitivo, social e afetivo.
Percebe-se que Vitor constrói uma “consciencialização do corpo e da coordenação psicomotora, o ajustamento de gestos, de movimentos, aumento das discriminações perceptivas. E ainda, percepção e integração da noção de espaço imediato (posições relativas, deslocamentos e itinerários) e da noção de tempo pessoal (coordenação dos movimentos)”.
Estariam errados por sugerir que este fosse internado numa instituição psiquiátrica, claramente!!
Volto a afirmar:
Mas o Vitor demonstra capacidade de adaptação , resiliência e tenacidade.
Uma criança não sobreviveria tanto tempo largada à sua sorte.a
O que isto significa??
A abordagem interventiva de Itard , defendia esta teoria do socio-interacionismo.
Nela prevalecia o convívio social, partindo do pressuposto que humanizando-o, Vitor deixaria de ter o perfil que apresentava, passando principalmente a comunicar oralmente, ou seja, a “falar por palavras”.
Mas isso não aconteceu...
Itard sente que falhou; que fracassou por não conseguir ensiná-lo a falar , apenas obtendo a vaga pronunciação das palavras ―leite e ―água; pois como se recordam a fala era o objetivo maior de todo o processo.
O que Itard e a sociedade da época não compreenderam foi que estavam perante um perfil neurológico diferente. Não era uma deficiência mental grave. Era uma condição neural diferente. Fora do padrão neural típico. O que hoje se designa na medicina como “uma perturbação do desenvolvimento neurológico” , e a que eu me refiro como “Neurodiversidade”. Estamos perante um quadro clinico a que se dá o nome de “perturbação do espectro do autismo” , ou apenas “Autismo”.
Vitor era uma criança com um perfil neurológico dentro do espectro.
Muitos dos que já escreveram acerca desta obra , que se tornou um objeto de estudo da Psicologia do Desenvolvimento, provavelmente não tinham considerado esta hipótese.
Mudaria a perspetiva da análise que fazem dela; talvez!
Sabemos que as coisas não são tão linerares!
Porém, essa teoria do socio-interacionismo de Vigotsky apresenta até uma essência muito próxima daquilo que urge implementar num processo de intervenção de uma criança no espectro.
Todavia , esta ideia subjacente de que a interação social ( ou a falta dela) explicam o porquê dasfunções superiores como a Fala acontecerem ( ou não) , está errada.
Sabemos que ainda não se tem um total domínio sobre esta matéria....
A comunicação é um dos 3 grupos que apresentam prejuízo no universo amplo do autismo. Temos comunicação/linguagem verbal e não verbal. Na comunicação/linguagem verbal , podemos ter oralidade ou ausência de oralidade . No caso do Vitor, existia comunicação verbal, com uma oralidade nula. Acriança manifestava compreensão do vocabulário utilizado no processo e chegou a pronunciar duas palavras. Muitas vezes , um autista verbal sem oralidade pode ter um universo de 10 palavras na oralidade, e mesmo assim, não emitir discursos fluentes. Sendo a fala um elemento nulo da sua comunicação. Muitos recorrem à linguagem não verbal gesticulada e estereotipada, outros recorrem à ecolalia. Outros manifestam o seu híper-foco na escrita, na música ou na multimédia, utilizando-como veículo de comunicação.
Teria sido diferente o percurso do Vitor se vivesse na atualidade? OBVIAMENTE!
Mudaria o feedback ; provavelmente.
Porém, existem imensos caso de crianças que foram estimuladas com metodologias adequadas , altamente intervencionados à luz da “microgenética” e que ainda assim, no caso da FALA, ela demora a concretizar-se....se se concretizar efetivamente.
Dou-vos o exemplo do João :
A verdade é que os números de casos de autismo aumentam a par e passo ; existem mais nados com esta condição ou foi o status do conhecimento que mudou?
Seja o que for, não podemos deixar de FALAR ABERTAMENTE e dar a conhecer ao MUNDO ; para que não escutemos agentes da informação como o meu amigo Madureira a referir-se erradamente a "doença"/doenças" , ao invés de manifestações ou graus... TEMOS DE LEVAR O CONHECIMENTO AO OUTROS, ele é a nossa ARMA!
O que podemos concluir:
A importância das relações sociais e da educação no desenvolvimento humano é extrema no autismo, e fora dele.
A educação através da mediação humanizada que vê a singularidade da linguagem corporal de cada um, e as diversas estruturas mentais é o caminho a seguir para uma sociedade contemporânea igualitária.
À porta do centro de apoio do meu filho está esta frase:
O melhor é que é generalista... inclusiva... aplica-se a todos por igual!
Se nos concentrarmos apenas no que é considerado negativo, perdemos o melhor....
JUNTOS faremos mudanças extraordinárias!
Sejam felizes!!
Cuidem-se , para que possam cuidar!
FONTES:
Recursos /Webgrafia:
O garoto selvagem- A importância das relações sociais e da educação no desenvolvimento humano – 2012 by Tatiane Marina dos Anjos Pereira &Maria Terezinha Bellanda Galuch
Teoria Genética de Vigotsky
https://www.youtube.com/watch?v=Jaj95BRW1AM
Busca escolar: O menino selvagem de Averyon
https://www.buscaescolar.com/sociologia/o-menino-selvagem-de-aveyron/
Analise do filme O Garoto Selvagem dentro da Psicomotricidade.
Publicado em 04 de April de 2013 por Fabiane Regina da Silva Souza
https://www.webartigos.com/artigos/analise-do-filme-o-garoto-selvagem-dentro-da-psicomotricidade/106407